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Outros Culícídeos2  
Artigo publicado em 08/12/2017, última edição em 27/12/2023  


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Outros Mosquitos Culicídeos (2)



Aedeomyia squamipennis

 


            A tribo Aedeomyiini possui somente um gênero, Aedeomyia, encontrado na África (duas espécies), Oceania (duas espécies) e somente uma espécie no Brasil e Américas, Aedeomyia squamipennis (Lynch & Arribalzaga, 1878), distribuído desde o México até a Argentina.

            Trata-se de um mosquito pequeno, de aspecto felpudo e de colorido branco, pardo e preto, com algumas áreas amareladas. Os segmentos flagelares das antenas são curtos, semelhantes a pequenas esferas. Os fêmures médio e posterior são dotados de um tufo de escamas salientes.

 

            Suas formas imaturas são encontradas principalmente em coleções liquidas de tamanho médio ou grande, geralmente profundas, ricas em vegetação flutuante, como lagoas, bolsões de rios e igarapés e corixos. As larvas são capazes de permanecer sem renovar o ar na superfície durante períodos mais longos do que a maioria dos Culicinae, com tempo de submersão superior a 10 minutos. Um trabalho recente demonstrou que estas larvas retiram oxigênio diretamente do parênquima de plantas aquáticas, de forma semelhante aos Mansonini. Foi identificada a presença de dois ganchos na extremidade do sifão das larvas, usadas para a fixação nas estruturas vasculares das macrófitas.

            Esta espécie é conhecidamente ornitófila. Pratica o hematofagismo durante a noite, procurando aves dos seus abrigos, inclusive nos galinheiros. Alguns registros mostram que este gênero pode picar seres humanos, mas não é sua presa principal. 


Doenças humanas: Não é vetor de doenças humanas. Foi incriminada como vetor natural de malária aviária na Venezuela, e existe um risco potencial de circulação do vírus do sorogrupo Gamboa. 









Larva e pupa de Aedeomyia squamipennis, fotografados em uma lagoa com muitas Salvinias, em Itu, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



Aedeomyia squamipennis, fotografados em Iquitos, Peru. Foto de Alonso Armas.



Mansonia e Coquillettidia

 

Os Mansoniini têm em comum uma interessante característica biológica nos estágios imaturos. As larvas de primeiro estágio movimentam-se livremente na água durante algum tempo após a eclosão do ovo, obtendo oxigênio na superfície líquida, como fazem os demais culicíneos. Aos poucos, vão localizando raízes de plantas aquáticas, ou outros tecidos vegetais submersos, onde se fixam perfurando esses tecidos a custa de dentes fortes existentes no ápice do sifão respiratório. A partir de então, durante todos os demais estágios larvais e pupal (sua trombeta respiratória tem aspecto de corno, com ápice bem quitinizado, adaptado para perfurar), retiram todo o oxigênio que necessitam dos parênquimas aeríferos.

As formas imaturas podem mudar de um local para outro numa mesma planta ou desta para outro vegetal. No momento da emergência do adulto a pupa se desprende da planta e migra para a superfície. As larvas se alimentam de matéria orgânica em suspensão na água do criadouro, pois não descem ao fundo ou sobem à superfície para procurar, ativamente, o seu alimento. Os Mansonia se fixam em plantas flutuantes, enquanto Coquillettidia se fixam em plantas aquáticas enraizadas. 

Seguramente 9 espécies de Mansonia ocorrem no Brasil, das quais Mansonia titillans Walker, 1848 é a mais comum. 


Doenças humanas: As espécies de Mansonia não são vetores de doenças endêmicas humanas no Brasil (embora tenham importância em doenças veterinárias). Por outro lado, podem tornar certas localidades impróprias à habitação ou à pecuária, por causa de seu hematofagismo agressivo.

 

Ovos: Os ovos de Mansonia são depositados em conjuntos geralmente de contorno circular, sob as folhas de plantas flutuantes. Lembram vagamente uma jangada de ovos de Culex, mas não ficam flutuando, mas submersos na água. Também são formados por menos ovos do que os Culex. Durante a desova, as fêmeas introduzem o ápice do abdome na água, prendendo os ovos na face inferior da folha escolhida. Neste momento, depositam também uma bolha de ar, que carreava no seu abdômen, para que os ovos possam respirar.

Larvas: Têm o aspecto habitual das larvas da subfamília Culicinae, adquirindo uma posição oblíqua em relação à superfície da água, quando obtêm oxigênio do ar atmosférico. Porém, como já mencionado, passam boa parte da sua existência atracada a plantas subaquáticas. Seu sifão é adaptado a esta finalidade, bem curto (geralmente bem menor que o lobo anal), escuro e cônico, com dentes cortantes muito quitinizados na face dorsal. As larvas têm antenas bem longas.

Adultos: São mosquitos muito robustos, de porte médio ou grande, escuros, com escudo de aspecto felpudo (principalmente na área supralar), asa e fêmures bem salpicados, sendo as escamas das asas bem largas, o que também confere um aspecto sujo e felpudo. Coloração escura, e patas francamente marcadas de branco. Alguns descrevem seu aspecto como "salpicados com sal e pimenta". 

Habitat: M. titillans é uma das espécies mais frequentes no nosso país, distribui-se amplamente do sul dos EUA ao sul da América do Sul. Habitam corpos d´água permanentes, onde existam plantas aquáticas.


Comportamento: Atacam em maiores números no crepúsculo vespertino e à noite. São verdadeiras pragas, dificultando a vida humana e a pecuária em certas regiões. Um exemplo desse problema vem ocorrendo na área de influência da usina hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins (PA), onde centenas de famílias abandonaram suas casas e cerca de 1000 que ali permaneceram, sofrem o ataque quase ininterrupto dos Mansoniini que se criam no enorme lago da hidrelétrica.




Mansonia
sp., em Belém (PA). Foto de César Favacho.




Grupo de
Mansonia uniformis, uma espécie australiana, fixo à raiz de uma planta aquática. No destaque, seus ovos. Fotos de Stephen Doggett.







Mansonia sp., fotografado no Parque Juquery, Franco da Rocha (SP), fotos de Walther Ishikawa.





Mansonia
sp., fotografado em Fortaleza, CE. Foto de Walther Ishikawa.








Larvas de
Mansonia sp. em raízes de Salvinia. Fotografado no Vale do Ribeira, SP, foto de Sandra Nagaki.








Coquillettidia venezuelensis, em Belém (PA). Fotos de César Favacho.


 


Uranotaenia

 

    A tribo Uranotaeniini é representado no Brasil somente pelo gênero Uranotaenia, pequenos mosquitos hematófagos que se alimentam principalmente de animais de sangue frio, especialmente anfíbios, não picando o homem. Recentemente se descobriu que U. sapphirina (não encontrada no Brasil) se alimenta de sangue de anelídeos.
O menor mosquito culicídeo conhecido pertence a esta família, Uranotaenia lowii, medindo 2,5 mm, ocorrem dos EUA até a Argentina. Alimentando-se de anuros, possuem uma estratégia única para encontrar suas presas: são atraídas pelo coaxar, ao invés do dióxido de carbono e calor, como as demais fêmeas de mosquitos hematófagos.
        Suas larvas têm a cabeça estreita e escurecida e sifão curto. Quando estão obtendo ar na superfície permanecem quase paralelas a esta, podendo ser confundidos com os Anofelinos. Vivem em ambientes permanentes ricos em vegetação aquática, como charcos e pântanos.


Doenças humanas: Não são considerados vetores de doenças humanas.







Uranotaenia
geometrica fotografados
 às margens do Rio Tamanduá, em Foz do Iguaçu, PR, e em Tailândia, PA. Fotos de Walther Ishikawa e César Favacho.



Uranotaenia pulcherrima, fotografado em Planalto, Concórdia, SC. Foto de Frederico Acaz Sonntag.





Uranotaenia calosomata
, o primeiro exemplar 
fotografado em Nova Timboteua, PA, pouco após hematofagia em Rhinella margaritifera (o pé é visível na canto superior esquerdo), o segundo fotografado em Ilha Grande, RJ. Fotos gentilmente cedidas por Adriano Maciel e Lawrence E. Reeves.




Uranotaenia nataliaeapós hematofagia em um anuro, em MG. Fotos cortesia de Flávio Mendes.





Uranotaenia pallidoventer, em Oeiras do Pará (PA). Foto de César Favacho.







Uranotaenia lowii, fotografado em Calcasieu Parish, Louisiana, EUA, e Extremoz, RN. Fotos cortesia de Shannon Foreman e Francierlem Oliveira.





Uranotaenia lowii em hematofagia sobre o olho de um Lithobates, fotografado no Osceola National Forest, Florida, EUA. Foto de Lawrence E. Reeves.





 


Larva de Uranotaenia em meio a larvas de Culex, coletado em um criadouro de solo. Fotos de Sandra Nagaki.





Toxorhynchites

 

Toxorhynchites é o único gênero conhecido da subfamília Toxorhynchitinae, os maiores culicídeos do mundo pertencem a este gênero, podendo atingir 12 mm de envergadura das asas. São conhecidas 94 espécies, 14 delas ocorrem no Brasil (3 do subgênero Ankylorhynchus, 11 do Lynchiella, incluindo duas sub-espécies). É o único culicídeo cujas fêmeas adultas não são hematófagas, estas se alimentam de néctar, como os machos. São longevos, adultos têm uma expectativa de 4 meses.

Os mosquitos do gênero Toxorhynchites são bastante pesquisados, por terem larvas carnívoras, predadoras de outras espécies de mosquitos (muitas vezes canibais), podem consumir até 400 larvas durante seu desenvolvimento. Associado ao fato de terem adultos inócuos, é uma espécie com grande potencial como agente de controle biológico de mosquitos vetores de doenças. Na ausência de larvas de mosquitos, consomem outros invertebrados. Na ausência destes, podem se alimentar de detritos.

Um comportamento intrigante destes mosquitos é o fato de por vezes matarem larvas de mosquito sem consumi-los. Isto é mais comum no quarto instar antes da pupação, a hipótese mais aceita é que a larva mate todo potencial predador no seu ambiente antes de se tornar uma pupa vulnerável.

 

Doenças humanas: Não são vetores de doenças humanas. Pelo contrário, são mosquitos benéficos, com adultos não-hematófagos, e larvas predadoras de outros mosquitos. 


Ovos: A fêmea raramente pousa na superfície da água, realizando loops de vôos elípticos próximo da água, eliminando seus ovos. Após alguns loops de reconhecimento, a fêmea ejeta o ovo durante um arco descendente do loop, e simultaneamente arqueia a extremidade do abdômen em cerca de 80°. Com isso, o ovo é ejetado a cerca de 100 cm/s, permitindo grande precisão quanto ao local da oviposição. Estes são de cor clara, brancos ou amarelos, ovais e hidrófobos, são encontrados flutuando na superfície da água, ou imediatamente abaixo. O período de incubação é de cerca de 40 a 60 horas, e dependente da temperatura. 

Larvas: As larvas são grandes (até 2 cm), geralmente de coloração marrom escura ou avermelhada, com pelos conspícuos no abdômen. A cápsula cefálica possui um par de poderosas mandíbulas. Pelo seu comportamento, as populações destes mosquitos são de poucos indivíduos, cada reservatório possui somente uma ou algumas larvas.

Adultos: estes mosquitos são grandes, coloridos de cores iridescentes e brilhantes Uma característica peculiar deste gênero é seu proboscis, com uma curvatura para baixo em 90º. São, por isso, chamados em inglês de “elephant mosquitoes”.

Habitat: São mosquitos silvestres, encontrados principalmente em áreas florestais tropicais, Suas grandes larvas são encontradas em ambientes semelhantes aos Sabetinos, como buracos de árvores, reservatórios de bromélias, etc.

Comportamento: São mosquitos diurnos. As formas adultas deste gênero não possuem hábitos hematófagos, sendo, portanto desprovidas de importância epidemiológica na transmissão de doenças.




Toxorhynchites (Lynchiella) haemorrhoidalis, larva, pupa e casal de adultos, fotografados em Belém, PA. É a única espécie brasileira (com duas sub-espécies) com tufos vermelhos no abdômen. Fotos e vídeo cortesia de César Favacho.




Larva de Toxorhynchites (Lynchiella) cf. haemorrhoidalisfotografada num acumulo de agua de bambu, no Parque Juquery, Franco da Rocha (SP), foto de Walther Ishikawa.







Larva de 
Toxorhynchites (Lynchiella) cf. haemorrhoidalis, coletado em um acúmulo de água em buraco de árvore em Goiânia, GO. Fotos de Max Malmann.






Toxorhynchites 
(Lynchiella) haemorrhoidalis fêmea, fotografada em uma fazenda, em Goiás. Note a probóscide curva para baixo, característica destes mosquitos, e o formato dos palpos, característica deste subgênero. Foto de Sonia Furtado.





Toxorhynchites 
(Lynchiella) mariae macho fotografado no Parque Natural do Caraça, MG. Foto de Troy Bertlett.
















Larva, pupas e adulto de Toxorhynchites (Lynchiella) violaceus encontrada em um fitotelma de bromélia em Vinhedo, SP. Na quinta foto, predando um Culex (Melanoconion). Na foto das pupas, há também uma pupa de Culex quinquesfasciatus, note a diferença de tamanho. Os vídeos mostram a fêmea da foto em oviposição. Fotos e vídeos de Walther Ishikawa.





Toxorhynchites
(Lynchiella) theobaldi fotografada em São Roque, SP. Foto de Thiago Gonçalves Coronado Antunes.






Larva de
Toxorhynchites
(Lynchiella) caatingensis coletada no fitotelma de uma bromélia Aechmea, na Estação Ecológica Raso da Catarina, BA. Trata-se de uma espécie recentemente descrita, em 2021. Foto gentilmente cedida por David Campos Andrade.
























Larvas de
Toxorhynchites (Ankylorhynchus) purpureus, fotografadas em fitotelmata de bromélias, em Ubatuba, SP. Algumas imagens mostram bem as grandes dimensões destas larvas, quando comparadas a outros mosquitos. Fotos de Walther Ishikawa.











Fêmeas adultas de Toxorhynchites (Ankylorhynchus) purpureus, fotografado junto a fitotelmata de bromélias. A terceira foto mostra seus ovos, junto a diversas larvas e pupas de mosquitos. Primeira foto em Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, as demais em Ubatuba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.








Toxorhynchites (Ankylorhynchus) trichopygus macho fotografado em Poços de Caldas, MG. Fotos de Walther Ishikawa.

 




A principal fonte bibliográfica deste artigo foi o livro Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. Rotraut A. G. B. Consoli & Ricardo L. de Oliveira Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994. 228 p. O livro pode ser baixado gratuitamente através do link  aqui 


Este artigo só foi possível com a colaboração de diversos amigos e colegas, aos quais somos muito gratos. Agradecimentos aos fotógrafos Sonia Furtado, Miguel Filho, Marcelo Alves Pacheco, Davidson Moreira, Francierlem OliveiraTroy Bertlett (EUA) e John C. Murphy (veja seu website aqui:   JCM Natural History Photography ), aos zoólogos César Favacho (veja seu álbum Flickr  aqui ), Tibério Graco, Maria Ogrzewalska, Stephen L. Doggett (Austrália), Paul Bertner (EUA), Anthony Érico Guimarães, Anna Julia Demeciano, Ulf Drechsel (Paraguai,  Paraguay Biodiversidad ), Max Malmann, Sandra Nagaki, Lawrence E. Reeves (University of Florida, EUA), David Campos de Andrade e os colaboradores do iNaturalist Isaac OliveiraAdriano Maciel, Thiago Gonçalves Coronado Antunes, Frederico Acaz Sonntag, Sidnei Dantas, Fernando SessegoloShannon Foreman (EUA) e Alonso Armas (Peru) pela cessão das fotos para o artigo. 


 As fotografias de Walther Ishikawa, Troy Bertlett, dos colaboradores do iNaturalist Shannon Foreman, Thiago Gonçalves Coronado Antunes, Frederico Acaz Sonntag, Sidnei Dantas, Fernando Sessegolo e do PHIL-CDC estão licenciadas sob uma licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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