Hemípteros aquáticos
Segunda
parte do artigo abordando os hemípteros aquáticos, a primeira parte pode ser
vista aqui .
Gelastocoridae
São chamados em inglês de Toad-bugs
(Bicho-sapo), devido ao corpo rugoso, olhos proeminentes e capacidade
de saltar. Vivem em ambientes marginais, geralmente muito bem
camuflados. A família é formada por duas subfamílias, cada uma com
somente um gênero conhecido: Nerthrinae (gênero Nerthra) e Gelastocorinae (gênero Gelastocoris).
Também possuem pernas anteriores raptoriais, caçando pequenos
invertebrados, porém, são maus nadadores. Gelastocorinae podem ser
encontrados em locais secos, a longas distâncias da água. Resistentes,
há registros de Nerthra fuscipes vivendo em águas termais com temperaturas de até 32o
C.
Gelastocorídeos Nerthra sp., fotografados em um bosque em Santa Catarina. Imagens gentilmente cedidas por Luís Adriano Funez.
Gelastocorídeo, Nerthra sp.,
coletado em Vinhedo, SP, animal com cerca de 10 mm. A última imagem mostra o animal em um paludário. Fotos de Walther
Ishikawa.
Gelastocoris sp., fotografados no Rio do Peixe, em São Roque de Minas, MG (primeira imagem), e na Represa de Vinhedo, SP (demais). Fotos de Vagner Ramos e Walther Ishikawa.
Naucoridae
De
corpo ovóide e achatado, medindo até 20 mm, lembram Belostomatídeos em
miniatura, chamados em inglês de Creeping Water Bugs ou Saucer Bugs. Alguns gêneros são adaptados a viverem em águas com bastante
correnteza, com um plastrão permitindo respiração permanente dentro
d´água. Como curiosidade, alguns naucorídeos são chamados em inglês de Alligator fleas.
Pequeno Naucorídeo coletado em Campinas, SP, provável Pelocoris sp. Nas primeiras fotos, em um aquaterrário. Fotos de Walther Ishikawa.
Ninfa de Naucorídeo fotografado em Vinhedo, SP, talvez um outro Pelocoris sp. Na primeira foto à direita, o inseto em tanatose. Fotos de Walther Ishikawa.
Naucorídeo Limnocoris, uma ninfa fotografada em Botucatu, SP, e um adulto fotografado em Santo Antônio do Pinhal, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Naucorídeo Cryphocricos, fotografada em Pindamonhangaba, SP, foto de Liberty Turtera.
Potamocoridae
É uma pequena família de Nepomorpha exclusiva neotropical com somente um gênero, atualmente tende-se a aceitar Potamocoris (algumas fontes ainda a citam como Coleopterocoris), cinco espécies no Brasil. São diminutos percevejos que não ultrapassam 4 mm, corpo ovóide e achatado, lembrando Naucoridae. Têm cerdas douradas nas margens da cabeça, tórax e asas proximais.
Potamocoris robustus, foto do American Museum of Natural History.
Ochteridae
Conhecido em países com língua inglesa como Velvety Shore Bugs,
são pequenos percevejos (até 9 mm) que vivem em áreas marginais,
hábitos mais terrestres do que aquáticos. Possuem olhos grandes e
proeminentes, e nenhuma adaptação visível aquática.
Ochterus sp., fotografado na Fazenda Santa Luzia, Itajá, GO. Foto gentilmente cedida por Vinícius Rodrigues de Souza.
Helotrephidae
Diminutos
percevejos (até 4 mm) globosos que vivem em áreas marginais de locais
com correnteza. Sua cabeça é fundida com o tórax (pronoto), chamada de
cefalonoto.
Heterotrephes admorsus,
espécie endêmica da Ilhas Amami, exemplares fotografados em Amami Oshima, Kagoshima, Japão. A segunda foto mostra um casal em cópula. Fotos gentilmente cedidas por Ryosuke Matsushima.
Pleidae
Também
são diminutos e globosos (até 3 mm), lembrando os Helotrephidae, mas
vivem submersos em meio à vegetação, e nadam com o dorso para baixo, por isso sendo chamados de Pigmy Backswimmers. Os menores Nepomorpha pertencem a
esta família.
Plea minutissima,
alimentando-se de uma pequena Dáfnia, e repondo seu estoque de ar com a
extremidade do abdomen na superfície da água. Fotografado em uma lagoa
em Almelo, Países Baixos. Fotos de Gerad Visser.
Diminuto Pleidae, fotografado no Rio de Janeiro, RJ. A segunda foto mostra uma régua em escala, no destaque. Fotos de Laís Barbero.
Notonectidae
Chamados popularmente de Barqueiros ou Rema-rema, e de Backswimmers em
inglês. Nadam habilmente à meia-água, com o dorso virado para baixo,
daí seu nome em inglês, o que diferencia esta família dos Corixídeos. Quatro gêneros brasileiros, medem até 15 mm, possuem grandes olhos, pernas anteriores e médias
adaptadas para agarrar suas presas, e pernas traseiras bem
desenvolvidas e em forma de grandes remos, com longas cerdas. Devido à
posição como nadam, possuem o dorso de cor clara, uma adaptação
visando camuflagem.
Alguns destes insetos têm mecanismos
bem sofisticados de submersão e nado, o gênero Buenoa tem hemoglobina na sua hemolinfa (fluido
corporal correspondente a sangue) das brânquias traqueias abdominais,
permitindo a liberação reversa de oxigênio de volta para as bolhas de ar, desta
forma modificando sua densidade, e controlando assim a submersão do seu corpo.
Trabalhos recentes com Notonecta sugerem também um interessante mecanismo de detecção de presas baseado em mecanoceptores em cerdas microscópicas das asas dianteiras, capazes de detectar mínimas variações de pressão aplicadas sobre a fina membrana de ar nestas asas.
Barqueiro notonectídeo, Martarega cf. bentoi, cerca de 10 mm, coletado em Vinhedo, SP. As
imagens em close mostram adultos e ninfas, ainda com asas curtas. Note
também o aspecto claro do dorso, visando camuflagem. Notem o amplo contato dos olhos, típico deste gênero. Fotos de Walther Ishikawa.
Barqueiros Buenoa sp., fotografados em Vinhedo, SP (em um aquaterrário) e em Amparo, SP (demais). São mais finos e alongados do que os outros gêneros. Fotos de Walther Ishikawa.
Barqueiro notonectídeo, Notonecta cf. sellata, cerca de 13 mm, coletado em Vinhedo, SP, no mesmo lago dos Martarega acima. Na última foto, junto a um barqueiro Martarega. Fotos de Walther Ishikawa.
Barqueiro notonectídeo Martarega, fotografado na Cidade Universitária (Campus USP), São Paulo, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Barqueiro Enitharoides brasiliensis, fotografado em Tinguá, Nova Iguaçu, RJ. Note as fóveas atrás dos olhos. Foto de Diogo Luiz.
Grupo de barqueiros notonectídeos, fotografados em uma lagoa em Japi, Jundiaí, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Corixidae
Dentre
os Nepomorpha, possui o maior número de espécies descrita. Lembram
bastante os Notonectidae, mas nadam com o dorso virado para cima. Uma espécie vive a grandes profundidades nos Grandes
Lagos norte-americanos, tendo sido coletado a 12 metros de profundidade.
Diferente
dos Notonectídeos, somente o primeiro par de pernas é curto, e adaptado
para preensão. São bastante flutuadores (em japonês são chamados de Fússen-mushi,
bicho-bexiga), as pernas médias são longas, e adaptadas para ancoragem.
Pernas posteriores também longas, na forma de remos.
Machos
de alguns grupos produzem sons, através de uma estrutura estridulatória
nos fêmures anteriores, que é friccionada às laterais da cabeça, as
cavidades laterais da cabeça e do protórax funcionando como caixa de
ressonância. Recentemente foi noticiado que cientistas franceses e
britânicos descobriram que uma diminuta espécie Corixídea européia de
somente 2 mm (Micronecta scholtzi) produz o som mais alto dentre todos os animais,
de até 99,2 dB (equivalente ao som que uma pessoa ouve ao assistir a uma
apresentação de orquestra sentado na primeira fileira de um auditório).
Incrédulos, os cientistas checaram várias vezes a calibragem destes aparelhos
após o registro.
Barqueiro corixídeo, Heterocorixa sp., cerca de 10 mm, coletado em Monte Verde, MG. Apesar
de nesta última imagem ele estar de ponta-cabeça, estes insetos
geralmente nadam com o dorso para cima, ao contrário dos Notonectídeos. Note o grande suprimento de ar na sua região ventral. Fotos de Walther Ishikawa.
Corixídeo Tenagobia, encontrados em locais rasos de fundo lodoso, fotografados no fundo de um riacho, tributário do Rio Negro, em Manaus, AM (primeira foto). e em Nazaré Paulista, SP (demais). Este gênero é encontrado em locais de água turva, sem vegetação, e medem poucos milímetros. Fotos de Walther Ishikawa.
Barqueiro corixídeo fotografado em um pequeno canal que se dirigia à praia, em Porto das Dunas, Aquiraz, CE. Foto de Walther Ishikawa.
Pequeno Barqueiro corixídeo Heterocorixa, fotografado em Poços de Caldas, MG. Fotos de Walther Ishikawa.
Diminuto corixídeo, provável Synaptogobia, fotografado no Parque Juquery, Franco da Rocha, SP. Veja como os élitros anteriores têm as porções membranosas reduzidas, lembrando besouros. Fotos de Walther Ishikawa.
Veja a terceira parte do artigo aqui .
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