INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
Vermes 3 - Planárias 2  
Artigo publicado em 10/01/2019, última edição em 24/01/2024  



Platelmintos ectocomensais e ectoparasitas


Segunda parte do artigo sobre  Planárias . Aqui abordaremos as demais espécies ectocomensais e ectoparasitas. Para retornar à página anterior, clique no link destacado acima.


 


Temnocephala


            Vejam as fotos abaixo. Qual é seu primeiro palpite? Hidras talvez? Quando primeiro descrito, em 1849, no Chile, foi confundido e batizado como uma Sanguessuga. Na realidade, as Temnocephala são vermes platelmintos, parentes próximos das Planárias. De início, foram classificados na classe Monogenea, juntamente com outros platelmintos ectoparasitas, mas atualmente compõem uma ordem à parte, Temnocephalida, de acordo com a taxonomia tradicional. Nas novas classificações cladísticas, está incluída dentro dos Rhabdocoela.

            São encontradas somente na América Central e do Sul. Muitas espécies foram descritas recentemente, atualmente são conhecidas cerca de 40 espécies, 17 brasileiras. Vermes parecidos da mesma família ocorrem também na Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e Madagascar.

            São vermes ectossimbiontes, vivendo aderidos à superfície externa de diversos hospedeiros, como crustáceos (caranguejos, Aeglas), moluscos, insetos aquáticos e tartarugas. Algumas espécies se alojam também nas cavidades branquiais de crustáceos, e cavidades pulmonares de Ampularídeos, sem aparente prejuízo funcional. Alimentam-se de pequenos invertebrados. Seus ovos são depositados nestas superfícies, se assemelhando a pequenas sementes ovoides, fixos por um curto filamento aderente. São mais comuns em ambientes com pouca correnteza, em águas ligeiramente ácidas.

            Podem medir até pouco mais de 1 cm, brancos ou branco-amarelados, e à primeira vista possuem um aspecto semelhante a Hidras, com um corpo alongado, um disco de sucção basal e cinco tentáculos. Mas olhando com mais cuidado pode ser visto que têm um corpo mais achatado e robusto, com simetria bilateral, e um par de pequenos olhos vermelhos, muito parecidos com os olhos das suas primas Planárias. Locomovem-se de forma idêntica às sanguessugas, com movimentos de contração e extensão, ancorados no disco de sucção basal e nos seus tentáculos.

 


Temnocephala sobre um Aegla uruguayana, animal coletado em um riacho argentino. Fotos de Hernán Chinellato.



Close dos mesmos Temnocephala das fotos acima. Note os olhos. Fotos de Hernán Chinellato.




Ovos de Temnocephala sobre um Aegla sp., na segunda foto, os vermes próximos à sua região bucal. Imagens gentilmente cedidas pelo Prof. Sergio Luiz de Siqueira Bueno (LEEUSP). Fotos de Bruno F. Takano.



Detalhe dos ovos de Temnocephala sobre um Aegla sp.. Imagens gentilmente cedidas pelo Prof. Sergio Luiz de Siqueira Bueno (LEEUSP). Fotos de Bruno F. Takano.




Temnocephala sobre um caranguejo Dilocarcinus pagei, e lagostim Parastacus varicosus. Vídeos e fotos gentilmente cedidos respectivamente por Iago Alonso e Evandro Benke.


Temnocephala cf. iheringi sobre um caramujo Pomacea sp. Vídeo gentilmente cedido por Bruno Zaneratto Nascimento.





            Um parente próximo destes vermes, que pertencem à mesma família, mas a outra superfamília são os Scutariella japonica. São relativamente comuns em camarões anões ornamentais, e há controvérsia se são ectoparasitas ou ectocomensais. Pelo menos em aquários, tendem a debilitar os camarões, e a recomendação é tratar, geralmente com banhos rápidos de água salgada. Mais recentemente foi descrita outra espécie similar, Monodiscus kumaki, de tentáculos cefálicos mais curtos.




Scutariella japonica sobre um Neocaridina davidi var. "Yellow". Na primeira foto, ovos dos vermes podem ser vistos abaixo da carapaça transparente do cefalotórax do camarão, na sua região lateral. Fotos de Elton Ishikawa.



Scutariella japonica sobre um camarão Caridina. Foto de Chris Lukhaup.


Provável temnocefálido de espécie desconhecida sobre camarão Neocaridina davidiFotos de Chris Lukhaup e Sabrina Moreira.





Planárias marinhas e terrestres



Somente como curiosidade, além das planárias de água doce, existem diversas espécies marinhas e terrestres, algumas com belas colorações. Seguem alguns exemplos abaixo: 


Planária marinha Phrikoceros fotografada em uma poça de maré na Praia da Costa, Vila Velha, ES. Foto de Flávio Mendes.

 






Três planárias terrestres fotografadas nas serras catarinenses, respectivamente Choeradoplana tristriata, Obama marmorata e uma espécie desconhecida. Fotos de Luiz Adriano Funez.





Acima, uma Obama burmeisteri, uma espécie bastante comum em São Paulo. Fotografada em Ubatuba, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Provável Dolichoplana carvalhoi, uma espécie descrita originalmente no Brasil, mas provavelmente exótica, do sudeste asiático. Uma espécie excepcionalmente comprida, que preda minhocas, registros em Embu Guaçu, SP (duas primeiras fotos) e São José, grande Florianópolis, SC (última). Fotos de Marcio M. Leodegario e Elisiane Iza Drechsler dos Santos.


Bipalium kewense, outra espécie exótica, também asiática. Fotografada em Concórdia, SC. Foto de Frederico Acaz Sonntag.




Bibliografia adicional:

  • Gamo J, Leal-Zanchet AM. Freshwater microturbellarians (Platyhelminthes) from Rio Grande do Sul, Brazil. Rev. Bras. Zool. 2004, vol.21, n.4, pp. 897-903.
  • Rocha O, Matsumura-Tundisi T, Tundisi JG, Fonseca CP. Predation on and by pelagic Turbellaria in some lakes in Brazil. Hydrobiologia June 1990, Volume 198, Issue 1, pp 91-101.
  • Dumont HJ, Carels I. Flatworm Predator (Mesostoma cf. lingua) Releases a Toxin to Catch Planktonic Prey (Daphnia magna). Limnology and Oceanography Vol. 32, No. 3 (May, 1987), pp. 699-702.
  • Tranchida MC, Macia A, Brusa F, Micieli MV, Garcia JJ. Predation potential of three flatworm species (Platyhelminthes: Turbellaria) on mosquitoes (Diptera: Culicidae). Biological control: theory and application in pest management. 2009 June, v. 49, issue 3 p. 270-276.
  • Perich MJ, Boobar LR. Effects of the preadatorDugesia dorotocephala (Tricladida: Turbellaria) on selected nontarget aquatic organisms: Laboratory bioassay. Entomophaga 1990; 35(1): 79-83.
  • Reynoldson TB, Sefton AD. The food of Planaria torva (Müller) (Turbellaria-Tricladida), a laboratory and field study. Freshwater Biology. Volume 6, Issue 4, pages 383-393, August 1976.
  • Tripet F, Perrin N. Size-Dependent Predation by Dugesia lugubris (Turbellaria) on Physa acuta(Gastropoda): Experiments and Model. Functional Ecology. Vol. 8, No. 4 (Aug., 1994), pp. 458-463.
  • Martín-Durán JM, Egger B. Developmental diversity in free-living flatworms. EvoDevo 2012, 3:7.
  • Andrade CFS, dos Santos LU. O uso de predadores no controle biológico de mosquitos, com destaque aos AedesInstituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas 2004.
  • Kolasa J. Predation on Mosquitoes by Juveniles of Mesostoma spp. (Turbellaria). Freshwater Invertebrate Biology, Vol. 3, No. 1 (Feb., 1984), pp. 42-47.
  • Nuttycombe JW, Waters AJ. Feeding habits and pharyngeal structure in StenostomumBiol Bull: 1935, 439-446.
  • Leal-Zanchet AM, Souza ST, Ferreira RL. A new genus and species for the first recorded cave-dwelling Cavernicola (Platyhelminthes) from South America. ZooKeys, 2014; 442: 1–15.
  • Souza ST, Morais ALN, Cordeiro LM, Leal-Zanchet AM. The first troglobitic species of freshwater flatworm of the suborder Continenticola (Platyhelminthes) from South America. ZooKeys, 2015; 470: 1–16.
  • Nandini S, Sarma SSS, Dumont HJ. Predatory and toxic effects of the turbellarian (Stenostomum cf leucops) on the population dynamics of Euchlanis dilatataPlationus patulus (Rotifera) and Moina macrocopa (Cladocera). Hydrobiologia; Mar2011, Vol. 662 Issue 1, p171.
  • Nuttycombe JW, Waters AJ. Feeding Habits and Pharyngeal Structure in StenostomumBiological Bulletin Vol. 69, No. 3 (Dec., 1935), pp. 439-446.
  • Noreña C, Damborenea C, Brusa F (2005). A taxonomic revision of South American species of the genus Stenostomum O. Schmidt (Platyhelminthes: Catenulida) based on morphological characters. Zoological Journal of the Linnean Society 144(1): 37-58.
  • Braccini JAL, Amaral SV, Leal-Zanchet AM. Microturbellarians (Platyhelminthes and Acoelomorpha) in Brazil: invisible organisms?. Braz. J. Biol. 2016 June; 76(2): 476-494.
  • Penha BR. Uma nova espécie de planária límnica identificada por DNA Barcoding: Girardia joseensis (Tricladida: Dugesiidae). 2016. 55 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, 2016.
  • Damborenea MC, Cannon LRG. On neotropical Temnocephala (Platyhelminthes). Journal of Natural History. Volume 35, Issue 8, 2001, p1103-1118.
  • Haswell WA. On Temnocephala, an Aberrant Monogenetic Trematode. Quarterly Journal of Microscopical Science. 28: 279–302, 1887, p 20–22.
  • Brusa F, Damborenea MC. First Report of Temnocephala brevicornis Monticelli 1889 (Temnocephalidae: Platyhelminthes) in Argentina. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 95(1): 81-82, Jan./Feb. 2000.
  • Amato JFR, Amato SB, Seixas SA. Temnocephala lutzi Monticelli (Platyhelminthes, Temnocephalida) ectosymbiont on two species of Trichodactylus Latreille (Crustacea, Decapoda, Trichodactylidae) from southern Brazil. Rev. Bras. Zool. 2005 Dec; 22(4): 1085-1094.
  • Martín PR, Estebenet AL, Burela S. Factors affecting the distribution and abundance of the commensal Temnocephala iheringi (Platyhelminthes: Temnocephalidae) among the southernmost populations of the apple snail Pomacea canaliculata (Mollusca: Ampullariidae). Hydrobiologia. Volume 545, Issue 1, August 2005, pp 45-53.
  • Niwa N, Ohtaka A. Accidental Introduction of Symbionts with Imported Freshwater Shrimps. In: Assessment and Control of Biological Invasion Risk, Koike F, Clout MN, Kawamichi M, De Poorter M, Iwatsuki K. (Eds.). World Conservation Union, Switzerland, 2006; pp: 182-186.
  • Trivinho-Strixino S, Silva FL, Valente-Neto F. First record of larvae of Chironomidae (Insecta, Diptera) as prey of Temnocephala sp. (Platyhelminthes, Temnocephalidae), an ectosymbiont on larvae of Corydalidae (Megaloptera). Revista Brasileira de Entomologia. 2012, v. 56, n. 3, pp. 387-389.
  • Brusa F, Leal-Zanchet AM, Noreña C, Damborenea C. Chapter 5 - Phylum Platyhelminthes, in: Thorp and Covich's Freshwater Invertebrates (Fourth Edition). Editor(s): D. Christopher Rogers, Cristina Damborenea, James Thorp. Academic Press, 2020, p. 101-120.
  • Ilário RJ, Bighetti RH, Silva RJ, Fonseca MG. Ocorrência de Temnocephala sp. Blanchard (Platyhelminthes, Temnocephalida) em Pomacea lineata Spix, 1927 (Mollusca, Gastropoda, Ampullariidae). Revista Fafibe on line, v.2, n.2, 120-123, 2006.
  • Seixas SA, Amato SB, Amato JFR. Temnocephalan epibionts (Platyhelminthes, Temnocephalida) on mollusks from Pantanal wetland, Brazil. Zootaxa. 2020 Oct 1;4858(3):zootaxa.4858.3.2.
  • Seixas SA, Amato JFR, Amato SB. First report of Temnocephala rochensis (Platyhelminthes: Temnocephalida) from Pomacea canaliculata (Mollusca: Ampullariidae) outside Uruguay: description update based on specimens from the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Zoologia (Curitiba). 2010, v. 27, n. 5, pp. 820-828.
  • Zivano A. Temnocephala (Platyhelminthes, Rhabdocoela) asociados a moluscos (Caenogastropoda, Ampullariidae): ecología y biogeografía. Dissertação (Doutorado em Ciências Naturais) - Facultad de Ciencias Naturales y Museo – Universidad Nacional de La Plata, Buenos Aires, Argentina, 2022.
  • Maciaszek R, Świderek W, Prati S, Huang CY, Karaban K, Kaliszewicz A, Jabłońska A. Epibiont Cohabitation in Freshwater Shrimp Neocaridina davidi with the Description of Two Species New to Science, Cladogonium kumaki sp. nov. and Monodiscus kumaki sp. nov., and Redescription of Scutariella japonica and Holtodrilus truncatus. Animals (Basel). 2023 May 12;13(10):1616.
  • Patoka J, Bláha M, Devetter M, Rylková K, Čadková Z, Kalous L. 2016a. Aquarium hitchhikers: attached commensals imported with freshwater shrimps via the pet trade. Biol Invasions 18: 457–461.
  • Maciaszek R, Kamaszewski M, Łapa P, Strużyński W. 2018. Epibionts of ornamental freshwater shrimps bred in Taiwan. Annals of Warsaw University of Life Sciences - SGGW - Animal Science 57 (2):133–142.
  • Maciaszek R, Świderek W, Prati S, Huang CY, Karaban K, Kaliszewicz A, Jabłońska A. Epibiont Cohabitation in Freshwater Shrimp Neocaridina davidi with the Description of Two Species New to Science, Cladogonium kumaki sp. nov. and Monodiscus kumaki sp. nov., and Redescription of Scutariella japonica and Holtodrilus truncatus. Animals (Basel). 2023 May 12;13(10):1616.


Agradecimentos especiais aos aquaristas Marcel KanamaruAntonio AugustoEdmilson F. S. JuniorEduardo Lima, Cláudio MoreiraFernando Barletta, Iago Alonso, Sabrina MoreiraEvandro Benke, Bruno Zaneratto Nascimento (veja seu  Instagram ), Danilo Santos Alvarenga e Hernán Chinellato (Argentina), aos colegas zoólogos Prof. Sergio Luiz de Siqueira Bueno e Bruno F. Takano (Laboratório de Estudos de Eglídeos da USP), Luís Adriano Funez Marcio M. Leodegario, também a Flávio MendesElisiane Iza Drechsler dos Santos e Frederico Acaz Sonntag (iNaturalist) pela cessão das fotos e vídeos para o artigo. Grato também ao zoólogo Piter Kehoma Boll por valiosas informações sobre as espécies terrestres. Agrademos também a Giovani Valduga pela doação da planta com o cisto de Planária. 



 As fotografias de Chantal WagnerCinthia EmerichWalther IshikawaFelipe Aoki Gonçalves e Frederico Acaz Sonntag estão licenciadas sob uma Licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS