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Mosquitos Anofelinos  
Artigo publicado em 03/12/2017, última atualização em 13/11/2022  


Larvas de Anopheles (Nyssorhynchus) fotografadas em Santo Antônio do Pinhal, SP, foto de Walther Ishikawa.



Este artigo é um dos quatro que complementam o artigo principal sobre larvas de mosquitos, que pode ser acessado  aqui . As referências bibliográficas estão todas reunidas em um link neste primeiro texto.




Anofelinos

 

Da subfamília Anophelinae, o gênero Anopheles é o mais numeroso, e o único com importância epidemiológica. É um mosquito cosmopolita responsável pela transmissão da Malária e Filariose Linfática, compreende hoje 54 espécies que ocorrem no Brasil. Há também os Chagasia, menores e de coloração parda, lembrando os Mansonia.

Anopheles são cosmopolitas, e encontrados em variados ambientes. Chagasia são exclusivos neotropicais, silvícolas, típicos de riachos montanhosos de fundo arenoso. 

As principais características desta subfamília são a presença de flutuadores nos ovos que são colocados isoladamente na água, a ausência do sifão nas larvas, o pouso dos adultos com o corpo e a probóscide quase verticalmente em relação ao substrato enquanto outros culicídeos pousam quase paralelamente. Por esta última característica, são chamados popularmente de "Mosquito-prego". Diferente dos culicídeos, as fêmeas possuem palpos longos, do comprimento da probóscide. Os machos de ambos grupos têm palpos longos, mas no caso dos anofelinos, a sua extremidade é dilatada.


Doenças humanas: Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi Root 1926 é, sem dúvida, o principal vetor de Malária no Brasil. É vetor primário, altamente susceptível aos plasmódios humanos e capaz de transmitir Malária dentro e fora das casas, mesmo quando sua densidade está baixa. É o único anofelino brasileiro no qual foram detectadas infecções naturais pelos três plasmódios que causam Malária humana nas Américas, e é o mais suscetível, experimentalmente, a esses parasitas. Outras espécies têm importância secundária, como o A. albitarsis Lynch Arribalzaga 1878, o anofelino mais comum e amplamente distribuído no Brasil, é considerado vetor secundário do plasmódio da Malária humana, sendo, porém, encarado como único transmissor em algumas localidades do País. Outra espécie importante é o A. aquasalis, que se desenvolve em poças de água salobra ou salgada. Os Nyssorhynchus são pequenos, e têm a extremidade do último par de pernas branca.

No Brasil existem três perfis de transmissão da Malária, o mais importante ocorre na Amazônia (99,5% dos casos), e dos demais, 89% dos casos são de Malária importada, ou seja, indivíduos que viajaram para áreas endêmicas. O terceiro é a Malária autóctone extra-amazônica (somente 0,05% do total de casos), o principal ambiente de ocorrência é a Mata Atlântica, onde as espécies da subfamília Kerteszia passam a ter importância, como o A. cruzii Dyar & Knab, 1908 (vetor primário nestes locais) e A. homunculus Komp, 1937 (vetor secundário), são espécies que se desenvolvem em fitotelmata de bromélias. Têm pernas listradas de branco e preto, lembrando vagamente os Aedes aegypti.





Larva de Anopheles (Nyssorhynchus) rangeli, junto a um percevejo Velidae e larva de Culicoides. Note a padronagem camuflada. Fotografado em Vinhedo, SP, foto de Walther Ishikawa.


 

Ovos: Os ovos são depositados unitariamente na superfície da água pela fêmea.  Esta simplesmente se aproxima do filme d´água e libera os ovos, semelhante a uma libélula. Os ovos são alongados, de cima lembrando um pouco os ovos do Aedes. Porém, são mais curvos lateralmente, descritos como em "canoa", com a presença de um par de longos flutuadores laterais. Estudos com A. punctimacula mostram que algumas espécies depositam uma mistura de ovos de eclosão rápida e lenta (RH e DH). Estes últimos são resistentes à dessecação e garantem a prole no caso deste ambiente secar, eclodindo no próximo período de chuvas.   

Larvas: Aspecto habitual das larvas dos demais culicídeos, porém, não possui sifão, mas um espiráculo respiratório. Devido a este fato, adquire uma posição paralela em relação à superfície da água, imediatamente abaixo do filme d´água.

Pupas: Trombeta curta, cônica e de abertura larga, contrastando com as pupas da subfamília Culicinae, que possuem trombeta alongada, geralmente de forma cilíndrica e de abertura estreita.

Adultos: Fêmeas com palpos longos, de comprimento semelhante ao da probóscide; pousam com o corpo e a probóscide em linha reta, quase em ângulo reto com o substrato.





Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi
durante o repasto sanguíneo. Note os ácaros foréticos no seu abdômen. Foto do acervo do Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.





Larva de Anopheles (Stethomyia), nimbus ou kompi, visão dorsal e ventral, fotografado no
Parque Juquery, Franco da Rocha, SP. Fotos de Walther Ishikawa.






Larva de Anopheles sp., fotografados em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.


Pupa de Anopheles sp., realizando movimentos de flexão e extensão. Note a trombeta curta e cônica.





Anopheles (Nyssorhynchus) triannulatus
, um vetor importante de Malária. Fotografado em Extremoz, RN, imagem gentilmente cedida por Francierlem Oliveira.






Anopheles (Kerteszia) cruzii
, o vetor mais importante de Malária extra-amazônica. Note suas pernas com aspecto tigrado, e a típica postura de pouso. Foto de Genilton Vieira, imagem extraída de Pina-Costa A. et al. 2014 (Licença Creative Commons).







Larva de Anopheles (Kerteszia) cruzii, coletada no fitotelma de uma bromélia, em Ubatuba, SP. Fotos de Walther Ishikawa.




Uma belíssima larva de Anopheles (Kerteszia) homunculus, uma espécie bromelícola da Mata Atlântica, também vetor de Plasmodium. Foto gentilmente cedida por Camila Lorenz.














Larvas de Anopheles (Kerteszia) homunculus, quatro larvas de último instar e uma mais jovem, todas coletadas no fitotelma de uma única bromélia, em Paraty, RJ. Fotos de Walther Ishikawa.





Anopheles (Kerteszia) sp., fêmea fotografada durante hematofagia. Note os longos palpos. Fotos gentilmente cedidas por Sandra Nagaki.






















Larvas e pupas de Anopheles (Nyssorhynchus) rangeli, coletados em um local bastante eutrofizado, um lago ornamental de tartarugas em Vinhedo, SP. É uma das poucas espécies de Anopheles que consegue se desenvolver nestes habitats degradados. Note a sua coloração escura. Fotos de Walther Ishikawa.










Macho adulto de Anopheles (Nyssorhynchus) rangeli, note a típica postura de pouso do gênero. É uma espécie que pica o homem, mas não é considerado vetor de Malária (há somente um reporte mal documentado na Colômbia). A penúltima foto mostra bem os palpos longos e com extremidade clavada. Fotos de Walther Ishikawa.










Fêmeas de Anopheles (Nyssorhynchus) cf. aquasalis, importante vetor de Malária, encontrado em locais próximo do litoral (reprodução em água salobra). Fotografado em Ubatuba, SP, fotos de Walther Ishikawa.




Fêmea de Chagasia
sp. durante hematofagia, fotografado em Santa Rita do Ribeira, Miracatu, SP. Note os longos palpos. Foto de Carlos Otávio Gussoni.

 





A principal fonte bibliográfica deste artigo foi o livro Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. Rotraut A. G. B. Consoli & Ricardo L. de Oliveira Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994. 228 p. O livro pode ser baixado gratuitamente através do link  aqui 


Este artigo só foi possível com a colaboração de diversos amigos e colegas, aos quais somos muito gratos. Agradecimentos ao fotógrafo Genílton Vieira (Instituto Oswaldo Cruz), ao Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (veja link  aqui ), aos zoólogos Camila Lorenz e Sandra Nagaki, ao ornitólogo Carlos Otávio Gussoni e ao fotógrafo Francierlem Oliveira pela cessão das suas fotos para o artigo.




As fotografias de Walther Ishikawa, Genilton Vieira (IOC) e do ICB-USP, e também de Carlos Otávio Gussoni (iNaturalist) estão licenciadas sob uma licença Creative Commons. As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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