INÍCIO ARTIGOS ESPÉCIES GALERIA SOBRE EQUIPE PARCEIROS CONTATO
 
 
    Espécies
 
Ortópteros  
Artigo publicado em 10/12/2012, última edição em 01/01/2023  


Ortópteros Semi-aquáticos


            Gafanhotos, grilos e esperanças são insetos essencialmente terrestres, com uma porcentagem muito pequena de espécies adaptada a ambientes alagados. A maioria das listagens de insetos aquáticos nem ao menos menciona ortópteros, mas existem algumas espécies que são intimamente ligados a ambientes aquáticos, principalmente através das plantas das quais se alimentam. Sua anatomia externa não possui adaptações muito visíveis ao seu hábito aquático, somente discretas modificações na última perna, para facilitar o nado, e adaptações no ovopositor, especializado em depositar ovos nas plantas aquáticas (ao invés do solo).

No Brasil, o grupo mais importante são os gafanhotos Acridóideos, com quatro gêneros que dependem de plantas aquáticas flutuantes. Duas espécies são mais importantes, seja por sua ampla distribuição, quanto pelo seu papel ecológico: O Cornops aquaticum (Bruner, 1906) e Paulinia acuminata (De Geer, 1773). Ambas desenvolvem seus ciclos de vida associados especificamente a duas plantas aquáticas que são daninhas, ambas presentes como espécies invasoras em muitos países, respectivamente o Aguapé (Eichhornia crassipes) e a Marrequinha (Salvinia spp.). Os dois gafanhotos estão sendo pesquisados como agentes de controle biológico, já tendo sido liberados na natureza com este fim em países da África e Ásia.



Gafanhoto semi-aquático Cornops aquaticum, exemplar argentino. Fotos gentilmente cedidas por Rosana M. Ursino.





Ninfa do gafanhoto semi-aquático Cornops aquaticum, fotografado em Belém (PA). Foto de César Favacho.




Ninfa de Paulinia acuminata
fotografada no Rio Grande, divisa MG/SP, em Guaraci, SP. Foto de Walther Ishikawa.





Gafanhoto semi-aquático Paulinia acuminata, foto de Luciano Martins (SISBIOTA-Brasil).


















Ninfas do gafanhoto semi-aquático Paulinia acuminata sobre Salvinia, fotografados em Itu, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Gafanhoto semi-aquático Marellia remipes, fotografada em Carmelo, Uruguai. Note as últimas pernas adaptadas para natação. Foto de Pablo Pegazzano.




Alguns gafanhotos Tetriguídeos europeus são nadadores e se alimentam de algas submersas, mas não ocorrem no Brasil. Muitos exemplares brasileiros da família Tetrigidae ocorrem em ambientes marginais, são anfíbios, muitas vezes saltando na água para fugir de predadores, possuindo algumas adaptações para nado e mergulho. Conhecidos como "gafanhotos anões", uma característica marcante deste grupo é o pronoto alongado posteriormente, muitas vezes ultrapassando as asas e abdômen, terminando em uma ponta aguda. Possuem o corpo rugoso e cores que permitem uma camuflagem muito boa.








Gafanhoto-anão da família Tetrigidae, fotografado na Represa de Vinhedo, SP. Não são propriamente semi-aquáticos, mas estes gafanhotos vivem em zonas marginais, e podem mergulhar na água para fugir de predadores. Fotos de Walther Ishikawa.



Os ortópteros da família Gryllotalpidae possuem vários nomes populares, como "Paquinha", "Frade", "Bicho-terra", "Grilo-toupeira" (significado do nome da família), "Cachorrinho-d´água", "Cachorrinho-da-terra", "Cachorrinho-do-mato", "Cava-terra", "Grilo-talpa", etc. São insetos que têm um modo de vida fossorial, com o corpo cilíndrico, a região anterior coberta por uma cutícula espessa e resistente, e pernas anteriores adaptadas ara escavação. Olhos pequenos, e antenas não muito desenvolvidas. Adultos alados. São muito mais comuns do que aparentam, mas pouco vistas por passarem a maior parte do tempo enterradas. 

Alimentação variável, geralmente matéria orgânica morta, mas existem espécies herbívoras, pragas de plantações, e até espécies predadoras. Há registros de predação de ovos de tartarugas marinhas na Guiana Francesa pelo gênero Scapteriscus. Machos produzem um som muito alto, ainda mais amplificado através de uma adaptação na saída das suas tocas, em forma de trombeta.









Ninfas de paquinhas (Neoscapteriscus sp.) encontradas na praia de Porto das Dunas, em Aquiraz, CE. Eram mais numerosos em locais úmidos, com uma grande concentraçao de túneis nas margens de um canal de água doce que se dirigia ao mar. Fotos de Walther Ishikawa.








Túneis nas margens de um lago, em Vinhedo, SP. Provavelmente feito por Paquinhas. Fotos de Walther Ishikawa.





Paquinha fotografada nas margens de um lago, num pesqueiro em Valinhos, SP. Foto de Walther Ishikawa.




Embora conhecidos como "paquinhas-anãs" ("pigmy mole cricket" em inglês), os gafanhotos das famílias Tridactylidae e Ripipterygidae não são tão aparentados com as paquinhas (Gryllotalpidae), nem com os grilos. Atualmente são considerados como sendo linhagens mais basais de gafanhotos. Seu aspecto e comportamento têm similaridades com as paquinhas, como as tíbias anteriores achatadas e adaptadas para escavação, e modo fossorial, um exemplo de evolução convergente. São gregários, vivendo em galerias horizontais superficiais escavadas em solo úmido, próximo a rios e lagos, ou ainda litorais marinhos. Muito ágeis e excelentes saltadores, são dificilmente coletados, porém, são facilmente atraídos pela luz.

        Tridactylidae é uma família cosmopolita, enquanto Ripipterygidae é exclusivamente Neotropical.





Neotridactylus apicialis
(Tridactylidae), exemplar norte-americano, fotografado em Townsend, Massachusetts, EUA. Foto gentilmente cedida por Tom Murray.




Tridactilídeos fotografados em Matinhos, PR. Fotos gentilmente cedidas por Diuly Walls.
















Ripipteryx notata (Ripipterygidae), fotografado em uma área alagada em Montenegro, RS. Mediam até próximo de 2 cm. Fotos gentilmente cedidas por Grazieli J. Derlam.







Embora mais incomuns do que outros insetos, Esperanças também são habitantes de bromélias, especilamente ninfas, com algumas espécies submergindo na sua porção aquática para fugir de predadores. Há registros relativamente antigos de Conocephalinae (por exemplo em florestas peruanas), mas foi somente em 2022 que foi descrita a primeira espécie brasileira realmente adaptada para estes ambientes, Ibityraboia caraguata, na Serra da Jibóia, agreste da Bahia. Permanecem em repouso com a parte posterior do seu corpo submersa, aguardando por presas.









Esperança bromelícola fotografada no Parque Nacional da Tijuca, ICMBio, RJ. Fotos gentilmente cedidas por Roger Rio Dias.





Finalmente, existe um único gênero de esperança Catidídea na América do Sul (Phlugis) especializada em predar ninfas dos Acridóideos. Geralmente de cor verde, possuem robustos espinhos nas penas anteriores, adaptadas para caça. Como as demais esperanças, suas antenas são longas e bastante delgadas.




Esperança catidídea Phlugis sp., fotografado no Equador, predador de ortópteros aquáticos. Note os grandes espinhos nos membros dianteiros. Foto gentilmente cedida por Paul Bertner.






Esperança Phlugis sp., fotografado no Rio Grande, divisa MG/SP, em Guaraci, SP. Fotos de Walther Ishikawa.





Bibliografia:


  • http://www.earthlife.net/
  • http://www.biota.org.br/
  • Wade S, Corbin T, McDowell LM. (2004). Critter Catalogue. A guide to the aquatic invertebrates of South Australian inland waters. Waterwatch South Australia.
  • McCafferty WP. Aquatic Entomology: The Fishermen's Guide and Ecologists' Illustrated Guide to Insects and Their Relatives. Jones & Bartlett Learning, 1983 - 448 p.
  • Braga CES, Gutjahr ALN, Morais JW, Adis J. 2013. Avaliação do potencial do Gafanhoto Cornops aquaticum (Orthoptera) como agente de controle biológico de Eichhornia crassipes (Pontederiaceae). Interciencia 38: 590-596.

  • Amédégnato C, Devriese H. Global diversity of true and pygmy grasshoppers (Acridomorpha, Orthoptera) in freshwater. Hydrobiologia (2008) 595:535–543.
  • Cheng L (ed) Marine Insects. North Holland, Amsterdam, 581p.
  • Nunes-Gutjahr AL, Braga CES. Ordem Orthoptera (ortho = reto; pteron = asa). In: Hamada N, Nessimian JL, Querino RB, editors. Insetos aquáticos na Amazônia brasileira: taxonomia, biologia e ecologia. Editora do INPA; Manaus: 2014.
  • Maros A, Louveaux A, Godfrey MH, Girondot M. Scapteriscus didactylus (Orthoptera, Gryllotalpidae), predator of leatherback turtle eggs in French Guiana. Mar Ecol Prog Series. 2003;249:289–296.
  • Baena-Bejarano N. (2015) Aspects of the natural history of Ripipteryx (Orthoptera: Ripipterygidae) species in Colombia. Journal of Insect Behavior 28: 44–54.
  • Cover MR, Bogan MT. (2015). Minor Insect Orders. In: Thorp, J., Rogers, D. C. (Eds.), Thorp and Covich’s Freshwater Invetebrates - Ecology and General Biology, 1059-1072.
  • Frank JH, Lounibos LP. Insects and allies associated with bromeliads: a review. Terr Arthropod Rev. 2009;1(2):125-153.
  • Burmeister EG. 1985. Bromeliáceas como espacio vital para larvas de Conocephalidae y Copiphoridae (Insecta, Saltatoria, Ensifera, Tettigonioidea). Studies on Neotropical Fauna and Environment 20: 107-111.
  • De Mello Mendes DM, Da Silva Neto AM. The Bromeliad Blue Horn Katydid - a new genus of the Cone-headed Katydid (Orthoptera: Tettigoniidae: Conocephalinae: Copiphorini) from the Serra da Jiboia, Bahia, Brazil. Zootaxa. 2022 Jun 22; 5155(3): 334-346.




Agradecimentos ao amigos Diuly Walls, Grazieli J. Derlam, Roger Rio Dias, Rosana M. Ursino (Argentina), Pablo Pegazzano (Uruguai), e Tom Murray (EUA, veja sua página PBase  aqui ), pela cessão das fotos para o artigo. Agradecemos também aos colegas zoólogos César Favacho (álbum Flickr  aqui ), Paul Bertner (EUA), e Carlos Sperber e ao fotógrafo Luciano Martins, estes dois últimos do Biota de Orthoptera do Brasil,  SISBIOTA-Brasil , também pela permissão do uso das suas fotos.


As fotografias de Walther Ishikawa estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores. 
« Voltar  
 

Planeta Invertebrados Brasil - © 2024 Todos os direitos reservados

Desenvolvimento de sites: GV8 SITES & SISTEMAS