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Tricópteros 2 |
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Artigo publicado em 04/01/2016, última edição em 18/06/2023 |
Tricópteros (2)
Segunda parte do artigo sobre Tricópteros, para voltar à primeira parte, clique aqui .
Subordem Integripalpia
São
os típicos Tricópteros construtores de abrigos portáteis desde os
estágios iniciais. Há uma grande variação nestes abrigos, na sua forma,
tamanho e material utilizado, alguns são bastante específicos, como o Helicopsyche (em forma de caracol, confeccionados com grãos de areia e seda) e Oecetis (pequenos
fragmentos vegetais sobrepostos de forma quadrangular, embora possam
ter outros padrões), mas deve-se evitar a identificação baseada somente
no abrigo, já que algumas espécies utilizam abrigos abandonados de
outras espécies, ou têm abrigos similares (Marilia e Oecetis, Nectopsyche e Phylloicus). São 30 famílias no mundo, das quais oito são registradas no Brasil.
Calamoceratidae é uma pequena família cosmopolita com quase 200 espécies, mas somente o gênero Phylloicus tem
ocorrência no Brasil (22 espécies). Suas larvas vivem em locais com
pouca correnteza e folhiço depositado, constroem abrigos conspícuos
formados por fragmentos de folhas fixados com seda, sendo por este motivo chamados em inglês de sleeping bag caddis. Adultos de porte
médio a grande, asas triangulares e largas, quando em repouso são
mantidas junto ao corpo. Coloração geralmente marrom-escura ou preta, mas há espécies bastante coloridas.
Existe uma espécie bromelícola, P. bromeliarum.
Larva de Phylloicus sp. (Calamoceratidae) com seu típico abrigo de folhas, fotografado no Parque do Jaraguá, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Adulto de Phylloicus sp.
(Calamoceratidae), talvez da mesma espécie das larvas acima,
fotografado no Parque do Jaraguá, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Phylloicus sp.
(Calamoceratidae), fotografado em Santa Leopoldina, ES. Foto de Flávio Mendes.
Phylloicus bromelliarum, encontrado no interior de uma bromélia, em Bertioga, SP. Fotos de Rodrigo Penati.
Helicopsychidae tem cerca de 270 espécies, somente o gênero cosmopolita Helicopsyche é
encontrado no Brasil, com 19 espécies. Larvas inconfundíveis, constroem
abrigos portáteis em forma de caracol, confeccionados com grãos de
areia e seda, como curiosidade, algumas espécies foram descritas no
passado como se fossem moluscos gastrópodes. Vivem em riachos de leito
rochoso, com correnteza pequena a moderada. Adultos pequenos, com
coloração castanha.
Larva de Helicopsyche sp.
(Helicopsychidae), fotografado em Poços de Caldas, MG. Alguns destes
Tricópteros foram erroneamente classificados como moluscos gastrópodes
quando foram descobertos. Insetos coletados em projeto desenvolvido por
Mireile Reis dos Santos, no IFSULDEMINAS, Câmpus Poços de Caldas.
Créditos fotográficos também de Eloiza Ferreira.
Larvas de Helicopsyche sp.
(Helicopsychidae), fotografado em San Antonio do Itambe, MG. Foto de Alexandre Ferreira.
Larvas de Helicopsyche sp.
(Helicopsychidae), encontrados na Praia de São Lourenço, em Bertioga,
SP. Em finas lâminas de água doce que escorriam num paredão rochoso
junto ao mar (ambiente madículo). Fotos de Walther Ishikawa.
Leptoceridae é
a segunda maior família em número de espécies, cerca de 2000,
distribuídas em todas as regiões zoogeográficas. 16 gêneros ocorrem no
Brasil, muitos endêmicos. Suas larvas são encontradas em uma grande
variedade de ambientes lóticos e lênticos, e constroem os mais variados
tipos de abrigos tubulares portáteis, tanto de seda pura quanto
associada com partículas minerais ou orgânicas. Algumas larvas são
semiterrestres. Existem espécies com pernas longas e com cerdas, usadas
para natação ou para filtrar alimentos. As larvas do gênero Triplectides são
interessantes, conhecidas por usarem pequenos gravetos que são
escavados pela própria larva como abrigos, no entanto, podem utilizar
abrigos vazios abandonados por larvas de outros tricópteros (isto
também já foi descrito em Marilia), e até esqueletos de pernas
de insetos e camarões. Adultos têm grande diversidade de formas, cores
e dimensões, em geral, apresentam corpo e asas longas e estreitas,
antena filiforme e muito longa, podendo alcançar quatro vezes o
comprimento corporal. Outra característica típica da família é a coxa
posterior dirigida anteriormente.
Larva de Atanatolica sp.
(Leptoceridae), exemplar amazônico. Este gênero constrói abrigos de
grãos de areia. Foto gentilmente cedida por Neusa Hamada (INPA).
Tricópteros
da família Leptoceridae, fotografado no Parque Nacional da Tijuca, Rio
de Janeiro, RJ. Foto gentilmente cedida por Roger Rio Dias.
Larvas de Grumichella sp. (Leptoceridae),
este gênero constrói abrigos de seda escura. Fotografados em córregos
da Serra da Cantareira, Núcleo Engordador (São Paulo, SP). Fotos de
Walther Ishikawa.
Larva de Triplectides sp.
(Leptoceridae), fotografado no Parque do Jaraguá, SP. Este gênero
constrói abrigos escavando gravetos. Fotos de Walther Ishikawa.
Outra larva de Triplectides sp., fotografada próximo à cachoeira Ponte de Pedra, em Águas da Prata, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Larva de Triplectides sp., fotografada em Santo Antônio do Pinhal, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
Larvas de Triplectides sp., fotografadas em Santa Leopoldina, ES. Foto de Flávio Mendes.
Larva de Oecetis sp., fotografada na lagoa Encantada, Vale Encantado, Vila Velha, ES. Este gênero produz abrigos de grãos de areia, ou tipicamente de pequenos fragmentos vegetais sobrepostos de forma quadrangular. Foto de Flávio Mendes.
Odontoceridae é
uma pequena família com pouco mais de 100 espécies, no Brasil ocorrem
46 espécies em três gêneros, dois monotípicos e restritos à região
Sudeste (Anastomoneura e Barypenthus), e Marilia,
de ampla distribuição. Larvas vivem em rios com corrente lenta a
moderada, fundo de cascalho ou areia, onde eventualmente ficam
enterrados. São onívoras, mas nos dois últimos estágios se tornam
predadoras. São muito conspícuas por construírem abrigos tubulares
feitos com grãos de areia colados com seda. Adultos, quando em repouso,
ficam com as asas parcialmente enroladas, conferindo uma aparência
cilíndrica ao animal. Antena longa e fina, com o escapo alongado.
Larva de Odontoceridae (Barypenthus?),
medindo cerca de 13 x 4 mm (abrigo), fotografado em um riacho
montanhoso (900~1000m) em Chapada, Ouro Preto, MG. Fotos gentilmente
cedidas por Alexandro Giovani.
Baryphentus cf. concolor (Odontoceridae), fotografados em São Francisco Xavier, São José dos Campos, SP. Fotos gentilmente cedidas por Meire Herrera.
Marilia sp. (Odontoceridae), fotografados em Manaus, AM. Fotos gentilmente cedidas por James Bessa.
Adulto de Marilia sp. (Odontoceridae), fotografado em Piedade dos Gerais, MG. Foto de Eduardo Moreira Pedrosa.
Sericostomatidae tem somente cerca de 100 espécies distribuídas em quase todas as regiões zoogeográficas, no Brasil, ocorre o gênero monotípico Grumicha nas regiões Sul e Sudeste, e Notidobiella com duas espécies. Larvas são encontradas em rios com correnteza alta a moderada, constroem casulos somente com seda escura (Grumicha) ou grãos de areia e seda (Notidobiella). Adultos têm asa anterior triangular, coberta por muitas cerdas.
Larva de Grumicha sp.
(Sericostomatidae), todas as fotos cortesia de Jovi Marcos. Coletados
num riacho em Penedo, RJ. Este gênero constrói abrigos de seda negra,
note a semelhança das tocas com outros gêneros acima, mostrando como a
identificação baseada somente em tocas não é confiável. As fotos
mostram também um Fantasma Macrobrachium sp., e um diminuto Melanoides.
Larva de Grumicha sp.
(Sericostomatidae), fotografadas no Rio Itamambuca, em Ubatuba, SP. Fotos cortesia de Suzana Ehlin Martins.Anomalopsychidae é
uma pequena família endêmica neotropical, no Brasil só são encontradas
nas regiões montanhosas do Sudeste. Larvas são coletoras-raspadoras,
constroem abrigos tubulares retos de seda e grãos de areia. São dois
gêneros, no Brasil ocorre somente os Contulma, cinco espécies.
Atriplectididae é
uma pequena família bastante peculiar, somente seis espécies com
distribuição disjunta Gondwanana, no Brasil só ocorrem na região Sul
(um gênero, Neoatriplectides). Larvas encontradas em piscinas
laterais rasas junto a pequenos córregos, construindo abrigos portáteis
achatados de pequenos fragmentos de cascalho. A morfologia da larva é
inconfundível, com a cabeça e porção anterior do tórax afiladas e
alongadas, e pernas médias robustas. Esta longa cabeça e mesotórax
telescópico ajuda no seu modo de vida, sendo carniceiros, perfuram a
cutícula de artrópodes mortos e alimentam-se de seus tecidos internos, tática semelhante a urubus (por este motivo são chamados de vulture caddis). Adultos lembram leptocerídeos, com longas antenas.
Larva de Neoatriplectides desiderata (família Atriplectididae), fotos de Daniela Takiya.
Limnephilidae é
uma grande família cosmopolita com cerca de 1000 espécies em 93
gêneros, mas somente 50 espécies neotropicais, somente uma espécie registrada no Brasil, Antarctoecia brasiliensis, em MG. São tipicamente encontrados em locais frios, de altitude ou clima
temperado, em córregos e nascentes a grandes rios, assim como ambientes
lênticos como lagos e lagoas, ou ainda áreas deposicionais de riachos,
substrato rochoso, arenoso ou de folhiço. Há grande variação no
material usado na construção das suas tocas portáteis, fragmentos de
plantas ou minerais, madeira, areia, eventualmente até conchas de
moluscos e tocas de outros tricópteros. No caso da espécie brasileira, a toca é feita de grãos de areia.
Subordem "Spinipalpia" Inclui
cinco famílias de posicionamento filogenético incerto, diferente das
duas subordens monofiléticas anteriores. Há controvérsia, algumas
análises recentes mostrando um padrão para- ou polifilético, outras
situando-as numa posição basal e primitiva em Integripalpia. Três das
cinco famílias ocorrem no Brasil. Uma característica marcante é o fato
de construir pelo menos o abrigo que está relacionado ao período pupal,
mas com grande variabilidade, como veremos adiante.
Hydroptilidae é
a família mais diversa e numerosa de tricópteros, cosmopolita, com mais
de 2000 espécies descritas, quase a metade registrada na região
neotropical. 158 espécies brasileiras, em 22 gêneros. A característica marcante desta família é a heteromorfose
(ou hipermetamorfose), onde o primeiro ao quarto estágio larval são
bastante similares (mesmo entre os diferentes gêneros), parecendo
pequenas larvas de besouros. No último estágio ocorre uma drástica
transformação morfológica, adquirindo a forma típica de um tricóptero,
às vezes com expansão de alguns segmentos abdominais, e geralmente a
construção de algum tipo de abrigo. Estes são extremamente variáveis,
podem fixas ou portáteis, e há espécies que não constroem qualquer casa
ou abrigo. Podem ser tubulares, constituídos de grãos de areia ou
outros materiais, ou ainda abrigos com duas valvas laterais de seda e
material vegetal. Porém, mesmo nestes tubulares, uma arquitetura com
simetria lateral e duas valvas pode ser vista. Alguns membros desta
família vivem em ambientes higroptéricos, como junto a cachoeiras. Os
adultos dessa família estão entre os menores Trichoptera, medindo de
1,5 a 8,0 mm de comprimento, muitas vezes chamadas em inglês de
"Microcaddis". Sua coloração é variável, geralmente a antena não é
maior que a asa anterior. As asas são longas e muito estreitas
apicalmente, apresentando uma franja de cerdas longas na margem
posterior. Muitos Hydroptilidae mostram grandes modificações anatômicas
nas suas antenas, cabeça ou asas. Quase todas se alimentam de algas, mas existe um gênero (Orthotrichia, não encontrado no Brasil) parasita de outros tricópteros. Diminuta larva da Oxyethira sp. (família Hydroptilidae), cerca de 5 mm, último instar. Coletado em Monte Verde, MG, fotos de Walther Ishikawa. Larvas de Anchitrichia duplifurcata (família Hydroptilidae),
fotografados em Goiás. Larvas de último instar, com seus abrigos, e
larvas de instares anteriores, sem abrigos. Note a grande diferença
morfológica entre eles. Foto de Daniela Takiya. Hydroptilidae adulta, fotografada em Campeche, Florianópolis, SC. Fotos de Kahio T. Mazon.
Glossosomatidae é
uma família de distribuição mundial, com cerca de 650 espécies, 266
neotropicais em 11 gêneros. São mais comuns em locais frios com
correnteza, habitando troncos, folhas ou rochas submersas,
alimentando-se de perifíton. Larvas bem pequenas e de cor clara,
constroem abrigos de grãos de areia em formato de casco de tartaruga,
com duas aberturas ventrais e, em alguns gêneros, apresentam aberturas
dorsais em forma de chaminé. O abrigo é simétrico, e a larva pode se mover no seu interior, as duas aberturas ventrais sendo intercambiáveis. Embora construam abrigos
desde os estádios iniciais, estas larvas diferem das Integripalpia por
construírem um abrigo a cada muda. Podem formar grandes agregações junto à superfície na pupação. Adultos também pequenos, de cor
enegrecida, com antena grossa, geralmente mais curta que a asa anterior.
Grupo
de pupas da família Glossosomatidae, na cachoeira Cascatinha, em Águas
da Prata, SP. Estes tricópteros costumam se empupar formando grandes
aglomerações. Seu abrigo é típico, feito com pedregulhos. Fotos de
Walther Ishikawa.
Glossosomatidae fotografados no Parque Ecológico da Serra do Japi, Jundiaí, SP. Durante as fotos, uma das larvas abandonou seu abrigo caminhando livremente (últimas imagens). Fotos de
Walther Ishikawa.
Glossosomatidae fotografado na Serra da Cantareira, Núcleo Engordador, São Paulo, SP. Foto de Walther Ishikawa.
Hydrobiosidae tem cerca de 400 espécies, com ocorrência em quase todas as regiões do mundo. Somente o gênero Atopsyche ocorre
no Brasil, 19 espécies. As larvas não constroem abrigos, exceto para
empupar, quando se fecham num abrigo cilíndrico de seda translúcida acastanhada de cerca de 7 mm. Todas são predadoras, pernas anteriores modificadas na forma de pinças ou garras. Adultos de coloração cinza-escura a
marrom com manchas mais claras nas asas anteriores. Antena possui quase
o comprimento da asa anterior. As larvas também podem ter cores brilhantes.
Larva de Atopsyche (família Hydrobiosidae), fotografado na Cachoeira do Coqueiro Torto, em Águas da Prata, SP. Fotos de Walther Ishikawa.
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