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Mosquito-de-banheiro  
Artigo publicado em 13/11/2012, última edição em 10/12/2023  



Mosquito-de-banheiro (ordem Nematocera, família Psychodidae, subfamília Psychodinae)




São pequenos mosquitos pilosos, frequentemente encontrados em banheiros, daí seu nome. Também conhecidos como Mosca-dos-filtros, mosquito-chambinho, bicho-de-box ou ainda tabelinha. A família Psychodidae inclui diversas subfamílias com larvas terrestres, e três com larvas aquáticas. Das três somente Psychodinae ocorre na região neotropical, com 360 espécies (de um total de 2000). No Brasil, há 26 gêneros, mas quatro espécies são bem mais comuns, todas sinantrópicas, a cosmopolita Clogmia albipunctata e três do gênero Psychoda. A primeira é facilmente reconhecida das demais por ser maior, e pela posição das asas (veja fotos adiante).











Larvas e pupa de Mosquito-de-banheiro Clogmia albipunctata, fotografadas em um buraco de árvore, e nas margens de um pequeno lago, em Vinhedo, SP. Fotos de Walther Ishikawa.



A classificação mais aceita divide a subfamília Psychodinae em cinco ou seis tribos. Sua taxonomia é bastante confusa, tanto em relação às tribos, quanto na classificação das espécies nestas tribos. Segue uma lista aproximada, embora em constante revisão (número de espécies brasileiras entre parênteses):
 
  • Maruinini Maruina (16) - facilmente identificável pelas asas longas e estreitas
  • Setomimini (grande tribo controversa, alguns autores incluem em Maruinini) - Alepia (22), Arisemus (4), Australopericoma (4), Balbagathis (1), Micrommatos (1), Coronamyia (5), Dictyocampsa (1), Neopericoma (4), Thrysocanthus (3), Tonnoira (15), Platyplastinx (8), Caenobrunettia (10) e Parasetomima (3)  
  • Mormiini Brunettia (2), Atrichobrunettia (14) e Bryopharsos (3)
  • Pericomaini - Lepidiella (6) - flagelômeros fusiformes, os três apicais não reduzidos. Único com R4 terminando no ápice da asa 
  • Paramormiini - Clogmia (1), Telmatoscopus (4) e Platyplastinx (8)
  • Psychodini Psychoda (32), Feuerborniella (9), Philosepedon (5), Quatiella (1) e Wagneromyia (1) 




O inseto adulto, Clogmia albipunctata. Foto de Marcos Teixeira de Freitas.




Larvas semi-aquáticas, com aspecto de vermes segmentados, apresentando finas cerdas (a exceção é Maruina, com larvas achatadas). Medem até 10 mm. Não possuem olhos ou pernas. Cabeça pequena, arredondada e escura, menor do que o corpo. Cada segmento corporal apresenta uma ou mais bandas retangulares dorsais, bastante úteis na sua identificação. Porção terminal afilada, formando um sifão respiratório escuro. 

Os adultos são pequenos mosquitos de cores opacas, corpo e pernas recobertos com pelos longos. Pernas curtas, dorso protruso, com aspecto de "corcunda". As asas são grandes, têm forma de folhas, também cobertas de cerdas. Antenas longas, também plumosas. Lembram muito mais pequenas mariposas do que mosquitos. Adultos são péssimos voadores, conseguem voar somente algumas dezenas de centímetros de cada vez, em vôos erráticos. Possuem sofisticados mecanismos para evitar se molharem, com diferentes tipos de pêlos cobrindo seu corpo e asas, impermiabilizando-os e concedendo um caráter superhidrofóbico, mesmo em ambientes com alguma concentração de surfactantes (como sabão). Se forçados a submergirem, o ar junto a estes pêlos forma um plastrão permitindo-os sobreviver por até 5 horas.



Larvas de Clogmia albipunctata que surgiram num paludário.


As larvas são semi-aquáticas, vivendo em terrenos alagados ou barrentos, fitotelmata, ou ainda em margens de corpos d´água. As Maruina são tipicamente encontradas em cachoeiras. Muitas espécies são especializadas em viverem em água acumulada em bromélias e outras plantas, como a maioria dos Alepia. Existem exceções, com espécies que se desenvolvem em cogumelos, secreções vegetais, madeira podre, carcaças animais, formigueiros (uma Alepia) e até fezes de vacas e morcego (guano, uma Tonnoira). 

As espécies sinantrópicas são bastante comuns em banheiros, onde se reproduzem nos ralos e encanamentos de esgoto. Os ovos são depositados emersos, próximo à superfície da água. Há exceções, recentemente foi descrita uma espécie brasileira amazônica, Psychoda amazonensis, vivípara. O desenvolvimento das larvas demora cerca de 16 dias, da pupa 5 dias, e os adultos vivem cerca de 10 dias.



Larva e pupa na porção aquática de um paludário.


Uma pupa, uma exúvia da pupa e um inseto adulto recém metamorfoseado, fotografado em um paludário salobro.


Alimentam-se de debris orgânicos, algas, fungos e bactérias. Nos esgotos, as larvas se alimentam do biofilme orgânico que se desenvolve na superfície de encanamentos. Larvas destes animais desempenham um papel importante nas estações de tratamento de esgoto industrial. Adultos se alimentam de água suja, ou néctar. Larvas respiram ar através do sifão.












Outra espécie de Mosquito-de-banheiro, muito pequeno, medindo cerca de 1,4 mm de envergadura das asas. Provável Psychoda sp. Este gênero têm larvas esbranquiçadas e com placas tergais menos desenvolvidas, menos associadas a ambientes aquáticos. Fotografado em um banheiro de residência, em São Paulo, SP, fotos de Walther Ishikawa.









Comparação entre os dois psicodídeos, Clogmia e Psychoda. Fotos de Walther Ishikawa.





 

 

 

 

 

 


Psychoda
sp., coletados em São Paulo, SP. Ovos, larvas e adultos. Fotos de Walther Ishikawa.




Perigo para humanos ou peixes: Via de regra, são inofensivas para humanos e outros animais. Porém, por viverem em ambientes contaminados, os adultos podem carrear patógenos no vôo, há até registros de problemas em centros cirúrgicos hospitalares. Embora extremamente raro, são descritos casos de miíase urinária, com identificação de larvas vivas na urina de mulheres, associadas a péssimas condições de higiene. Muitos sanitaristas as consideram espécies benéficas, por alimentarem-se de matéria orgânica de ralos, tubulações e sifões, impedindo seu entupimento. Sugerem até que se evite o uso de inseticidas pertos de ralos, para conservar estes animais.

A família Psychodidae inclui também espécies hematófagas, muitas delas importantes vetores de doenças humanas, como o mosquito Flebótomo, mas estes pertencem a outra sub-família, e suas larvas não são aquáticas.

Mosquitos-de-banheiro são invasores comuns em filtros de aquários, especialmente filtros de maiores dimensões de lagos externos. É muito frequente a sua presença em meio ao perlon ou outros materiais de filtragem mecânica destes sistemas. Apesar de ser uma espécie proveniente de ambientes bastante contaminados, nestas circunstâncias onde se sabe o local de origem dos animais, eles podem ser usados como alimentos vivos, após limpeza.

Mas, pelo mesmo motivo, adultos capturados de Mosquitos-de-banheiro não devem ser utilizados como alimentos, porque geralmente carreiam muitos patógenos originários do ambiente altamente contaminado em que as larvas se desenvolvem.




















Larvas, pupas e o inseto adulto de Alepia sp., coletadas no fitotelma de uma bromélia, em Vinhedo, SP. Algumas espécies de psicodídeos se desenvolvem exclusivamente em bromélias. Fotos de Walther Ishikawa.







Larvas de Psychodinae de outra espécie, coletadas no fitotelma de uma bromélia, em Santo Antônio do Pinhal, SP. 
Fotos de Walther Ishikawa.



















Alepia
 sp., fotografadas em uma bromélia gigante em Itatiba, SP. Havia algumas Clogmia albipunctata co-habitando a mesma bromélia (a larva ao centro
na quarta foto, e identificado como "B" na quinta foto). Havia também uma curiosa larva apigmentada ("A" na quinta foto). Fotos de Walther Ishikawa.




 
Casal de psicodídeos em cópula, fotografados em Belém, PA. Foto de César Favacho.






Provável Alepia sp., fotografado em Rio Pequeno, São Paulo, SP. Foto de Natalia Bechelli.












Diversidade de psicodídeos encontrados em Itamambuca, Ubatuba, SP. O primeiro é um Alepia sp., encontrado junto a uma bromélia. Fotos de Walther Ishikawa.






Diminuto psicodídeo encontrado em Itaguara, Itaipé, MG. Fotos de Tamara Miranda.





Psicodídeo fotografado em Batistini, São Bernardo do Campo, SP. Foto de Reinaldo Oliveira Elias.




Psicodídeo fotografado em Rio Branco do Sul, PR. Os Caenobrunettia são descritos realizando exibições em folhas, talvez seja o caso. Foto de Jhonatan Santos.





Psicodídeos fotografados em Taiúva e Jaboticabal (dois indivíduos), em SP. Talvez da mesma espécie do mosquito acima. Fotos de João Vitor Oliveira de Souza.






Larva de Maruina sp., exemplar da Colômbia. Este gênero habita cachoeiras, e tem larvas com morfologia distinta, achatada e com discos de sucções ventrais. Foto de Esteban Peláez Sánchez (Laboratorio Limnología UCO).





Maruina sp. com suas típicas asas finas e alongadas, fotografada em Salto Rio Aporé, Cassilândia, MS. Fotos gentilmente cedidas por Vinícius Rodrigues de Souza.






Provável Trichomyia fotografado em Itamambuca, Ubatuba, SP. Trata-se de outra subfamília (Trichomyinae, este é o único gênero que ocorre no Brasil), com larvas terrestres. Lembram muito Psychodinae, olhos e venação distintas. Fotos de Walther Ishikawa.




Há alguns relatos entre aquaristas de predação de ovos da Ampulária ornamental Pomacea diffusa por larvas de Psicodídeos, provavelmente alguma espécie de Psychoda nos EUA, e Clogmia no Brasil. Veja mais detalhes no artigo  aqui .





Larvas de Psicodídeos em ovos de Ampulária em um aquário ornamental dos EUA. F
oto de Vicky Becerra.









Pupas de Psicodídeos que surgiram em ovos de Ampulária ornamental, nos EUA. Fotos de Laurie Alaimo.






  
  
 
Larvas de Clogmia albipunctata em ovos de Ampulária, em um aquário ornamental de São Paulo, SP. Fotos cortesia de Cindy Lopislazuli.




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Agradecimentos aos zoólogos Marcos Teixeira de Freitas e César Favacho, aos fotógrafos Tamara Miranda e Aaron Schusteff (EUA), às aquaristas Cindy LopislazuliLaurie Alaimo (EUA) e Vicky Becerra (EUA), e aos colaboradores do iNaturalist Reinaldo Oliveira Elias, Jhonatan Santos, João Vitor Oliveira de Souza, Natalia Bechelli e Vinícius Rodrigues de Souza por permitirem o uso do seu material fotográfico.



As fotografias de Walther Ishikawa, César Favacho, Esteban Peláez Sánchez (Laboratorio Limnología UCO), Tamara Miranda (iNaturalist), Jhonatan Santos (iNaturalist), João Vitor Oliveira de Souza (iNaturalist) e Natalia Bechelli (iNaturalist) estão licenciadas sob uma  Licença Creative Commons . As demais fotos têm seu "copyright" pertencendo aos respectivos autores.
 
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